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terça-feira, 24 de julho de 2012



"QUEM ESTÁ MAIS DOENTE?”

Ouvindo as inquietações de colegas da rede estadual o Prof.º Josué Brito fez a seguinte análise:
A escola pública está tão doente que precisa de médicos, psicólogos, assistentes sociais, nutricionistas, pastores, padres, pais de santo, políticos, pais, mães, estudantes, enfim de todos e não somente do retorno dos professores para ressuscitá-la. Mas quem deseja fazer isso? A simples volta à sala de aula em meio à greve garante alguma coisa? As pessoas que estão voltando acreditam em quê? Há muito que as instituições públicas, incluindo as escolas, pereceram por conta do autoritarismo, da ausência de investimentos e do abandono político.

Os nossos representantes, dominados pela economia, enxergam o fenômeno social como gasto e não como investimento. Mas preferimos os mitos da democracia. Escutar um professor dizer que voltará à sala de aula porque não aguenta mais emocionalmente pode ser muito sintomático. O professor que desiste da luta porque não suporta mais o cinismo e a indiferença do governo, aliados à falta de dinheiro, contribuem para a manutenção da iniquidade porque despreza a força dos movimentos sociais para as mudanças. Há muita gente dizendo que a luta acabou, mas ela sobrevive porque ninguém suporta indiferença por muito tempo.

Nos moldes atuais do Brasil, em que menos de 1% da população tem preocupações com a educação, não se pode esperar reconhecimento de professor. Por isso cabe a discussão sobre a educação e a sua função até mesmo para desmistificá-la. A escola não é democrática. A escola pública não inclui e não conscientiza. Por isso, está mais do que na hora de pensarmos num enterro decente para essa mão do mercado chamada educação. Creio que só não fizemos isso ainda porque o professor ainda se vê como um sacerdote. Já ouvi pais ameaçarem os filhos de puni-los com a escola pública caso desobedecessem. É que nos habituamos com os absurdos.

É por isso que nem pai, nem mãe, nem filho e nem o Espírito Santo se deram por falta da escola. Porque não sabem dos prejuízos a longo prazo que enfrentarão por ignorar os nossos direitos, por nos acomodar. A escola tem função social e só não vê quem não quer. Há um acordo tácito entre todos que impede investimento em educação pública com o risco de desequilibrar o mercado e alterar os postos de trabalho, além do mais, quem irá servir o cafezinho? Quem irá apertar o parafuso? Por isso, o mínimo do mínimo aos pobres. Se houvesse preocupação social com a escola, garanto que o governo já teria feito algo.

Recentemente, participei de reunião de pais e pude notar o quanto de cordeiro e de gado há nas classes empobrecidas. Ninguém questionou nada sobre a greve, sobre os prejuízos, parecia até reunião de início de ano. Como pode tamanho anestesiamento e indiferença? Portanto, não acho que retornar sem ganho para a escola seja uma medida para contorno de sofrimento psíquico. Pelo contrário, acho que vai agravá-lo porque o aluno já se habituou com a sua aula vaga, se habituou a não querer estudar, se habituou a passar de ano sem saber nada, se habituou a viver com a mediocridade, se habituou a se calar nas coisas sérias e a falar muita asneira.

Os professores que se preocupam com a educação devem pensar no tipo de cidadania que está formando, na desvinculação do seu conteúdo com o mundo e na despreocupação com a comunidade escolar porque consumidor não é cidadão. Essa greve serve para se pensar na cultura que temos e na que queremos, se é que queremos de fato. A greve, de forma alguma, representa uma fuga aos problemas da escola, mas uma forma de chamar a atenção da sociedade para o que acontece dentro dela. Mas tenho medo de que tudo não passe de puro idealismo e que a prática do descaso e do esquecimento volte a ser a nossa conduta.

Josué Brito– julho 2012"

1 comentários:

Caio disse...

Brilhante o comentário do professor Josué... duro, mas é tão coerente que chega a brilhar! Sim, professor, tendo em vista o tratamento que o governo e o legislativo (se é que são instâncias distintas) estão dando à greve, devemos ser mesmo muito idealistas.

Educação pra que?! Se povo bom de governar é povo ignorante. Esse que vemos todo dia e o dia todo assistindo novelas e abrindo crediário para comprar TV de LCD. Viva a cultura popular!

O professor na sala de aula tentando formar uma consciência autônoma e cidadã é visto apenas como " mosca na sopa". Ao saírem das salas os "estudantes" se deparam com a TV, com as rádios, as músicas estúpidas e as festas de camisas.Esses eventos sim, (des)educam o povo.

Aqui, as massas se revoltam mesmo quando o poder público não investe em carnaval e futebol... ou quando "não tem nada na televisão".

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